20/04/2009

A influência dos botecos na organização social


Nosso próximo post será um serviço de utilidade pública. Com os devidos descontos aos preceitos da sociologia, antropologia e outras logias, sabe-se que existe uma segmentação natural da sociedade, pois desde os primórdios da humanidade, nós reles mortais vivemos em grupos. Estes grupos formam-se a partir de afinidades, semelhanças físicas, religiosas, culturais, e - por que não dizer? - por preferência de botecos.

Isso mesmo, estes locais que segundo a Wikipedia “Boteco ou botequim são termos oriundos do português de Portugal botica, e do espanhol da Espanha bodega, que por sua vez derivam do grego apothéke, que significa depósito” podem sim, ser fatores de extratificação social, constituindo as tribos, grupos, as fraternidades, enfim, constituem um aglomerado de seres apreciadores de um bom boteco.
Ainda segundo a Wikipedia, no Brasil, o boteco ou botequim ficou tradicionalmente conhecido como lugar de encontro entre "boêmios", onde se procura uma boa bebida, petiscos baratos e uma boa conversa sem compromisso, fato este que nos remete a esta nossa reflexão.

Desta forma, a partir da descrição, ou mesmo da simples menção a alguns botecos poderemos constatar a influência dos botecos na segmentação da sociedade:


Dentro do campus da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, espaço de excelência nas pesquisas, entre elas as sociais, podemos observar in loco alguns exemplares como o Bar da Moita, que reunia a nata dos malucos e membros honorários do MESC – Movimento Eu Sou Cultural. Lá podíamos apreciar um bom vinho Carreteiro, a velha Pitú com caldinho, além é claro, de apreciarmos a boa música da cena alternativa recifense, como Cumadre Florzinha.

Em contraponto, tínhamos o Bar da UNE (União Nacional dos Estudantes) que reunia os boyzinhos, as patrinhas, calouros, candidatos a calouros, alunos da Escola Técnica (hoje CEFET) e demais anônimos que buscavam beber uma cervejinha, ralar o bucho num pé-de-serra arrochado. Não podíamos deixar de mencionar aqueles "legais" com seus carros com um som estridente rolando as músicas da moda.


Quase no mesmos moldes do Bar da UNE, tínhamos o Clube Universitário, que além do gostoso pé-de-serra, ainda rolava um pop rock massa com os caras e a mina do Pulso 100, se não me falha a memória.


Até mesmo em seu entorno a UFPE possui “laboratórios a céu aberto”, e podemos analisar os Bares da Kelly e do Abacaxi, e verificarmos amostras de grupos, tribos e galeras sociais, que curtem um bom forró pé-de-serra, cerveja nem tão gelada assim, azaração e claro, a velha gazeada nas aulas da sexta-feira.


O público GLS, GLTB, enfim, não sei se existe alguma nova sigla para expressar o público gay também possui seus lugares prediletos. Podemos mencionar a Galeria Joana D’ark que é quase um complexo de bares descolados para a turma do Recife que gosta de apreciar boa comida com uma trilha sonora bacana. Lá você pode encontrar crepe (Anjo Solto), comida mexicana (Boratcho), sanduíches (Provout) e, claro, cerveja e bebidas para passar a noite toda com os amigos. O Mustang, aquele “inferninho” por trás do Shopping Boa Vista, a própria Praça da Alimentação deste shopping e a Metrópole completam a lista.


Para fazer uma homenagem aos boêmios mais tradicionais, poetas, artistas plásticos, músicos, não poderíamos deixar de falar do saudoso Bar Savoy. E para não cometer nenhuma gafe histórica, nem botequeira recorreremos ao grande Carlos Pena Filho para classificar o local:


Chopp

Na avenida Guararapes,

o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antonio, tanto se foi transformando
que, agora, às cinco da tarde,

mais se assemelha a um festim,

nas mesas do Bar Savoy,

o refrão tem sido assim:


São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,

trezentos desejos presos,

trinta mil sonhos frustrados.


Ah, mas se a gente pudesse

fazer o que tem vontade:

espiar o banho de uma,

a outra amar pela metade

e daquela que é mais linda

quebrar a rija vaidade.


Mas como a gente não pode

fazer o que tem vontade,

o jeito é mudar a vida

num diabólico festim.

Por isso no Bar Savoy,

o refrão é sempre assim:

São trinta copos de chopp,

são trinta homens sentados,

trezentos desejos presos,

trinta mil sonhos frustrados


Carlos Pena Filho
(1929-1960)

E como não poderia deixar de ser, aproveito esses momentos finais para homenagear os botecos temáticos da Terras dos Eucaliptos, “a minha querida Moreno”. Apenas farei a menção ao Bar Moreno, pois este é frequentemente explorado em nosso blog.

Ai que saudade do Bar da Ficha... Como o próprio nome sugere, possuía uma belíssima radiola-de-ficha que reunia a mais eclética coletânea de música que já vi e ouvi. Reunia desde bêbados anônimos, políticos, estudantes e professores. Lembro-me como se fosse ontem quando André Doido comprou uma ficha para colocar duas vezes seguidas a Saga de um Vaqueiro (acho que é esse o nome) aquele forró de quase duas horas de música... E o dono do bar disse logo: “a radiola tá quebrada!” só para não ter que ouvi-la duas vezes seguida. Outro clássico, e que nosso D. Pablito adorava, era Babylon Vampire de Édson Gomes.

O Bar Ecológico do historiador popular Joca tinha um dos garçons mais simpáticos de Moreno, nosso amigo Inácio, que com seu louro (papagaio) no ombro nos servia sempre com muita presteza. Lá podíamos levar qualquer som, de Iron Maiden a Pinduca e ouvir tomando várias cervejas. O cenário bucólico nos permitia beber entre árvores, banquinhos e mesas de troncos e restos de árvores, à margem do Rio Jaboatão.

Nos tempos áureos do “liseu” que a Belco custava R$1,00 nós dávamos derrame no Caldinho Ele e Ela de nosso amigo Walter, no Bar de Fernando (antigo Bar da Gaiola de meu padrinho Bigode) e no Bar de Bica.

Bar de Zeza (Zeza Water Park), outro importante patrimônio cultural da terra dos eucaliptos será tema para um texto a parte, mas a tripinha e o dendê são exemplares maravilhosos de sua gastronomia peculiar.

Nomes exóticos também possuem exemplares em Moreno como: Bar da Rola, Bar do Vento, Bar da Linha e Bar de Zinco.

Por fim, o Bar do Geladinho, de nosso querido amigo Davino. Nele você degusta a cerveja mais gelada da cidade numa área de aproximadamente 8m², podemos ouvir Los Hermanos as duas horas da manhã, cantando repetidas vezes: "QUEEEM SABEEEE O QUEE ÉÉÉ TEER E PERDEEER ALGUÉÉÉM... " (Pablo gritou até a mãe de Davino acordar). Outra de Pablo foi chutar o balde de lixo, espalhando tudo pelo chão. Mas ele ainda é cliente vip de lá.

Concluo com a esperança de provocar boas lembranças de lugares e momentos especiais, despertar a curiosidade de que possam conhecer lugares tão pitorescos e inusitados, e ainda, homenagear estes botecos tradicionais que ficarão marcados em nossas lembranças.

3 comentários:

pablo disse...

O Bar do Bigode [cana com mel] e o Cavanhaque -fora da UFPE- tb eram boas pedidas pro povo MESC...

ah, tinha tb o Bar das Plantas que fui um dia com Marina, Fabinho e Netinho.
De repente chega o garçom com uma câmera pra tirar foto da gente e pôr num mural que tinha na parede com as fotos dos frequentadores... Eu preferi não saí. Vai que a moda pega: uma foto minha em tudo que é bar. Dispense!

Medievas disse...

Era o que eu ia falar. Faltou barba, bigode e cavanhaque, pra ficar completo!
Tá bom, ainda não tem o bar da barba. Vamos abrir, Pablo?

pablo disse...

raposa não toma conta de galinheiro, medievas.

direito de resposta:no dia que ficaram repetindo "quem sabe" dos losers no geladinho, eu num tava cantando sozinho não. alan, doug e mais gente tava tb.

e no dia do balde, foi um erro de cálculo... eu tava contando o que acontecia na batata de jera quando tocava "orquídea negra" de zé ramalho e a galera chutava o balde -literalmente- no "fooogo!!!"...
tanto q pedi desculpa pracarái e ajudei a limpar