06/03/2009

Ai! que saudades do pau de João...

Conheci o Pau do João numa noite de verão, em Porto de Galinhas, 1997. Época em que em Porto só tinha "istas" - surfistas e turistas - o que afastava os famigerados maurícios e patrícias de Boa Viagem.

Era uma época boa. Eu era feliz e sabia que era. O pau do João sempre estava lá, oferecendo a melhor companhia e um fluido precioso de vários sabores...


Os cabeças sujas estão boiando... os botequeiros praieros já perceberam: o boteco do João, nomeado pelo seu fundador de "Pau do João", marcou época em Porto de Galinhas e marcou uma geração inteira com sua cachaça classe A, sempre a um precinho "meia-entrada" - adequado para estudantes terceiroanista (como eu).

O Pau do João era um típico boteco: era apenas uma "venda" com um balcão e prateleiras expondo as cachaças artesanalmente produzidas por seu João, único garçom do Pau do João. Havia seis ou sete bancos fixados na calçada, do lado oposto a que seu João ficava. Não precisa dizer que esse era o espaço mais disputado em Porto de Galinhas em muitas noites.

O sistema para comprar cachaça era simples. Depois de disputar espaço com cinco ou seis bêbados, você alcançava o balcão. Em seguida, tentava desesperadamente chamar atenção de João. Se você fosse uma surfista atraente, era bem mais fácil. Se não, o processo de grita "seu João!!" e balançar o dinheiro na mão poderia durar de 5 a 15 minutos. Um olhar lançado por João era da dica: qual cachaça você quer? Após gritar por no mínimo duas e no máximo 10 vezes qual o sabor da cachaça e o tamanho do copo, seu João atendia-nos. A dica mais quente era levar o dinheiro trocado... caso contrário, durante o processo de selecionar as notas e moedas do troco, seu João poderia lançar o olhar para outro botequeiro...


Depois disso, era só degustar!!!


Perguntarão os mais atentos botequeiros, como saber qual sabor querer se seu João não oferecia os sabores? Os nomes das cachaças eram escritos nas garrafas de whisky, ou garrafas de vidro em geral. Você poderia arriscar, mas a melhor pedida era "PAU DO JOÃO".


O Pau do João era um ícone entre as cachaças. Em primeiro lugar porque era o preferido de seu João, segundo por que era o mais saboroso e, por fim, único que ele não abria a receita. Por dinheiro algum. Ninguém saia sóbrio do Pau do João… Não tinha tira gosto, não tinha mesa, não tinha bom atendimento, apenas a misteriosa cachaça. Nos momentos mais calmos do boteco, a diversão era chutar os ingredientes e assistir seu João afirmando ou negando cada um deles. Ao todo eu contei uns 30 ingredientes afirmados e uns 30 negados. O certo é que a receita se foi com João.


Que saudade do Pau do João! Dor maior não houve ao ver suas paredes serem derrubadas para montar uma loja de cangas e, logo em seguida, descobrir que seu João havia falecido e levado consigo a receita. Porto nunca mais foi a mesma desde então.


Junto com Seu João e o Pau do João foi-se também meus 17 anos, as cachaças que custavam R$0,25, a falta de preocupação com o dia seguinte e a curiosidade de saber a receita do Pau do João. Foi-se o ano de 1997 e tudo que nele passou; apenas ficou essa saudosa botequeira, que aprendeu o bom das cachaças nos bancos do Pau do João.


Ai! Que saudades do Pau de João!

7 comentários:

Emerson Azevedo disse...

Estou indo agora mesmo comprar um daqueles kits de alquimia e começar a inventar uma cachaça. quem sabe um dia eu invente uma tão boa quanto a do João e fique , como ele, imortalizado por isso.
Não vai faltar voluntários para servir de cobaia. Tenho dito.

Medievas disse...

Rapaz, eu acho que já tomei pau do joão! Onde ficava essa barraca, hein?

Judapaz disse...

Na frente do que hoje é a picanha do dadá.

Gabi da Paz disse...

Gente, O Pau do João era maaaaaaaaaassaaaaaaaa. Uma época ele começou a vender caldinho. Foi meu primeiro caldinho de feijão... (lágrimas)
Nunca consegui beber mesmo o Pau do João, porque era muuuuuito forte. Se judapaz tinha 17 anos, eu tinha 14, então meu esquema era cana de fruta mesmo, preferencialmente de maracujá e acerola.
Vou parar com essa conversa que eu não posso mais beber cachaça de algum tipo, quero ficar com vontade não.
AWAY

Anônimo disse...

éeeitaaaa, eu tb ia demaaaisss na barraquinha do pau do joão!!! 0,25 centavossss!!! que saudade danada! eu bebia muita cachaça naqueles copinhos de café descartáveis! gostava tb do de graviola! :)
que lembrança boa de lembrar!

Anônimo disse...

Juuuuuuuuuuuuuu! Eu tava láaaaaaaaaa. Bons tempos mesmo... ai ai...

Medievas disse...

cecile, o valor me lembrou da cachaça... kkkkkkkk Com dois reais se ficava bêbado. Bons tempos aqueles.