07/03/2009

As loiras, essas injustiçadas

Elas estão na boca de toda a gente. Freqüentam as mesas de qualquer tipo de bar, dos mais furrecas (geralmente os que têm os melhores tira-gostos) aos de conta mais salgada. Há delas para todos. Todos as preferem, mesmo que não confessem nos círculos sociais mais altos. Muitos saem de casa à noite, escondidos de mulheres e filhos, só para procurá-las na primeira esquina. Estamos sempre sentados próximos a elas, ainda que não reparemos como, apenas com seus cheiros e suores, deixam o ambiente mais interessante. Sim, elas são onipresentes, tanto que estamos sempre de butuca nelas nos botecos.

Quando chegam, é curioso notar, há todo um ritual de cortejo dos que à mesa desfrutam de suas presenças. Geralmente apenas um marmanjo de cada vez ousa tocá-las, convidá-las a serem mais democráticas, repartidas igualmente, mais amigas de todos na roda de goles, piadas e risadas. Etiqueta também se leva à mesa (de bar).

Elas estão no nosso imaginário de desejos há muito tempo. Apesar de ainda lembrarem terras européias com sua cor, que sempre brilha em tons de ouro, abrasileiraram-se no calor tropical. Estão ao dispor dos nossos pecados mais tupiniquins. São como uma espécie de pão-nosso-de-cada-dia no cardápio de satisfações fáceis, acessíveis. Todos as querem por perto, todos as desejam, nem que seja só nos fins-de-semana.

Mas por que tão poucos as valorizam como realmente elas merecem? Nunca vi poetas que por elas fizessem arte. Não vi ainda alguém que transformasse em som e letras o gosto único que elas trazem às nossas bocas. Não percebi em lugar algum, músicas que traduzissem fielmente os prazeres que elas nos proporcionam. Elas definitivamente não têm todo o respeito que merecem.

Ah, as loiras, essas injustiçadas!

Por isso, botequeiros (butuqueiros), peço: na próxima vez que estiverem numa mesa de bar e uma loirinha sentar-se à mesa com vocês, prestem mais atenção nelas. Não as desfrutem como quem tão-somente come o feijão-com-arroz comum de cada dia. Elas são vulgares só na aparência. No fundo, elas podem te dar um prazer diferente a cada gole. E nunca, nunca, nunca digam que elas são todas iguais ou, o que é ainda pior, que aquela com quem você esteve outro dia ou em outro bar é melhor do que ela. Cada uma, sem exceção, é única, ainda que com elas já tenhamos estado outras vezes. Elas são únicas a cada vez que as temos somente para nós.

Permitam-me apelar. Quando virem se aproximar de vocês a próxima loira, quando ela delicadamente pousar-se sobre sua mesa, por favor, reverenciem sua presença com este quase soneto:

Há muito que eu te esperava,
minha única e linda dama.
De longe, como já te amava!
E, confesso, te queria até na cama.

Esse amor doido é como lava,
Acendes em mim como uma chama.
Acaso percebes-te que te mirava
Com a sede insaciável de quem ama?

Por isso, minha preferida, não demora,
Que te quero logo em minha boca,
Vai, enche-me de vez o copo, minha lora.

Que só assim te jogo goela abaixo
Pra que, líquida, geles tanto a minha vida
Que teu nome jamais fale eu baixo!

O mais alto e claro que eu possa,
por ti, juro que assim eu vou gritar:
Garçon, fila da mãe, deixa de bossa!

Traz depressa outra Bohemia!

(ou Brahma, Antarctica, Schin, Itaipava, Frevo, Belco, Heineken...)

2 comentários:

Medievas disse...

Pura poesia a tão amada e desejada entidade! Que a divindade nunca nos separe dessa saciedade sublime, e que perdoemos sua promiscuidade, afinal, as coisas gostosas da vida devem ser partilhadas.

Por isso eu e meu companheiro não abrimos mão de ter mais uma em nossa casa, em nossa mesa, em nossa cama.

Vida longa e longos goles!

Flávio disse...

Pois é, Medievas. Ainda bem que existem mulheres como você, que aceitam-na na cama. rsrsrsrs

Felic, show de bola as ilustras! Obrigado!