09/02/2009

Causos verídicos sobre o momento de pagar a conta da cachaça


Leitor assíduo deste plural e democrático espaço de reflexão sobre temas ligados as atividades desenvolvidas nestes ambientes ecléticos e prazerosos, os botecos, onde podemos nos confraternizar com os amigos, comemorar conquistas, afogar mágoas; senti uma necessidade impulsiva de escrever algo, e dar minha singela contribuição para este importante blog.

Como dissertar acerca de receitas gastronômicas, crônicas e cordéis não é muito o meu forte, decidi fazer alguns relatos sobre causos reais e interessantes que pude vivenciar no convívio com amigos nos botecos da agitada vida noturna da Terra dos Eucaliptos.

Em meu ciclo botequeiro social de amizades é comum comemorarmos as grandes conquistas profissionais, acadêmicas e pessoais de nossos amigos com um ritual que consolida-se com o tempo como uma importante tradição: bebemorarmos com todo o glamour e requinte que o boteco no qual estivermos permita.

Mesmo com toda a diversidade social e cultural que acomete nosso grupo -alguns casados, alguns noivos, alguns emancebados, e outros indefinidos, mesmo com a distância geográfica- é certo, quando um membro desta fraternidade logra êxito em alguma atividade, nos reunimos o mais rápido possível. É como o sinal do Batman, não importa onde estivermos, teremos que atender ao chamado, em qualquer lugar, a qualquer hora.

Outro aspecto relevante a ser mencionado em nossa tradição é que a conta sempre é de responsabilidade de nosso homenageado. Não importa o quão vultosa sejam as cifras. É uma responsabilidade e uma honra, é um prazer arcar com o prejuízo.

Pois bem, certo dia, recebemos a notícia, veiculada em impressos de grande circulação de nosso Estado, que nosso amigo Jean Anderson Bezerra Costa* havia sido classificado em concurso realizado pelo Metrorec. De imediato, articulamos o membros de nossa fraternidade para mantermos viva nossa tradição, e por fim bebemorarmos o sucesso de nosso amigo Doug*. Estávamos eu, Pablito Gomes, Flávio Tetéia, Denis Leonardo e a grande figura ilustre da noite, o Ganso*.
*são a mesma pessoa.

Em uma noite fria de sábado, depois de alguns Dry Martinis... Epa, essa é outra história.
Voltando ao causo, o local sagrado do ritual foi a Palhoça. Neste período o cardápio que simbolizava o requinte e o glamour permitido aos nossos bolsos, ou melhor, o do Ganso, era pedirmos uma farta Tábua de Frios composta de salame, queijo mussarela, palmito, azeitonas verdes, cubinhos de presunto cozido e tudo regado a Bohemias, que ficavam depositadas em recipiente de alumínio, comumente conhecido balde de gelo. É isso mesmo, aqueles baldes típicos para manter o vinho ou a champagne na temperatura ideal para a apreciação. Coisas de Moreno.

Lá pelas tantas da madrugada, eis que surge um iluminado, com uma grande idéia de brindarmos aquela grande conquista com o melhor vinho da Carta! O volume significativo de substâncias alcoólicas as quais ingerimos não me permite lembrar da marca. Acho que também tomamos alguns tragos de whyskinho.

Para encerrarmos com chave de ouro nossa comemoração, escolhemos criteriosamente a sobremesa. A pedida unânime foi um saboroso sorvete Cornetto, sendo um para cada integrante. Todos os membros de nossa fraternidade degustaram a iguaria em no máximo três abocanhadas, todos. A exceção de nosso homenageado: uma pessoa sensível, de boas maneiras, de suaves lambidelas em seu Corneto. Quando de repente, em um momento de selvageria, surrupiaram o sorvete das mãos do Ganso e passaram a Pablito, que do jeito que veio, introduziu por completo em sua bocarra, deixando nosso nobre amigo chupando dedos, quase aos prantos.

Como não podia deixar de ser, a melhor parte fica sempre para o final, e final em se tratando de boteco é a hora da famigerada CONTA. Eis que chega o momento célebre da cota, mesmo sendo tradição ser de responsabilidade do homenageado, ele só fica sabendo na hora de pagá-la. E assim foi... Cada um que puxava um real, dois reais, acho que alguma alma caridosa puxou cinco reais. Detalhe, a conta deu oitenta mirréis, muito barato filha... (essa também será outra história). Pois bem, R$80,00 foi a conta, a arrecadação para ajudar o Ganso foi de no máximo R$10,00.

Conclusão: Doug quase aos prantos literalmente, no ápice de todo seu desespero frente a situação exclamou: “EU SÓ TENHO SETENTA MIRRÉIS NA CARTEIRA E É PARA DAR A MAINHA, MADIMOSELLE RAILDA, FAZER A FEIRA DA SEMANA”! Como todos sabemos, tradição é tradição, e mesmo sensibilizados com a circunstância calamitosa de nosso companheiro, fomos firmes e honramos nossas tradições – saímos todos correndo gritando ao proprietário que a conta era do Ganso! Ele pagou os R$70,00 e até hoje não sabemos como ele fez a feira da semana.

Ah, quase ia me esquecendo! Ele só tinha sido aprovado no concurso. A convocação mesmo veio tempos depois... E aí, já sabe né?
Ele se fudeu de novo!

3 comentários:

pablo disse...

também conhecido como O DIA EM QUE O GANSO PAGOU O PATO

Judapaz disse...

Depois desse dia, Ganso se transformou em outra pessoa: deixou de ser desempregado, deixou de ser donzelo, deu chilic para pararem de comer as coisas que ele comprava, parou de ver os amigos, trancou o curso de matemática e passou no vestibular de psicologia. Vamos fazer ele pagar outra cachaça para ver se ele volta a ser como ele era antes.

Flávio disse...

Porra, Batman, é foda! Vão pensar mal da gente, pô. rsrsrsrsr Mas tudo bem. O texto tá massa, parabéns!