15/06/2009

"Aqui, nesta mesa de bar..."


De repente percebi que a "gaia" (para meus amigos sulistas, o "chifre") andava longe de ser assunto dos mais debatidos por aqui. Achei estranho, pois gaia e mesa de bar são um casal inseparável (talvez porque admitem o relacionamento aberto).

Muitas traições começam em mesas de bar. É um tal de papelzinho com recadinhos, aliança sumindo do dedo, olhares, desejos, barulho, um quase anonimato no meio da massa de gente que presta atenção apenas no próprio prazer. Se por acaso a bendita gaia nossa de todo dia não começou em um bar, passará por um mais adiante, na fase dos encontros, na prévia do motel, nas comemorações do amor liberto. E fatalmente terminará em outra dessas mesas: ou para comemorar a vitória do outro, que se torna oficial, ou para deslanchar os motivos da separação (É que eu amo minha mulher, sabe?).

Mas nada se compara à companhia da mesa amarela da Skol quando estamos curtindo o peso dos chifres. Nesse momento o chão se abre, e parece que só nos resta o caminho do bar. O garçom (ou garçonete) é nosso aliado, enche nossos copos, manda vir o táxi que nos levará seguros até em casa. Sempre há um corno por perto para nos ajudar nas lamentações e criar singelos adjetivos para o outro que nos fez tão mal. E a terceira pessoa? Essa é execrada, desmantelada, despedaçada e desfrutada. Tudo ao som de Reginaldo Rossi, do rei Roberto ou de José Augusto. Quantas belas amizades não nasceram de uma curtição de dor de cotovelo?

O tema, bastante frequente na literatura e na música, foi retratado também nos nomes de bares: Bar do Corno, Bar do Chifre, Bar da Gaia – Quem não conhece um com esse epítetos? Curiosamente, o homem não se distancia do tema, tão visceral e doloroso. Prefere tomar uma com ele, fazê-lo amigo, presente, como se essa proximidade o afastasse da possibilidade de o medo se tornar algo real. Assim seguimos, pagando cachaça para a traição, Numa forma de comprar nossa inelegibilidade ao cargo de corno.

2 comentários:

Alisson da Hora disse...

"Assim seguimos, pagando cachaça para a traição, Numa forma de comprar nossa inelegibilidade ao cargo de corno."

putz, eu bebo há tanto tempo e nem me toquei disso...mas eu sou solteiro, pá!

Márcia disse...

Muito bom, Medievas =)
Realmente, uma lacuna que você reparou a gente ainda não ter abordado a relação íntima cachaça x traição.