
Botequeiro (ou butuqueiro, tanto faz) que é botequeiro (butuqueiro) tem bom papo (além de ser papudinho). E nessa de ter bom papo, quando o trinômio mulher-futebol-política descambar pra baixaria-quase-agressão-física, o botequeiro (butuqueiro) da paz (o que inclui obviamente os do Bar de Zé da Paz, né, Ju? Né, Ray?) deve ser assaz habilidoso para mudar repentimanente o rumo da prosa. Fugir do trinômio nefando e escatológico é urgente.
Mas o que fazer? É necessário que a arenga seja interrompida por um assunto que ninguém domine. Algo fora do comum, mas que seja levemente conhecido de todos de modo a causar curiosidade. Algo que seja conhecido sem ser inteiramente conhecido.
Vou tentar dar um exemplo. Talvez o melhor. Digo por experiência própria. Trata-se do esotérico tema da “baunilha”. Sim, não estou bêbado enquanto digito estas mal-tecladas. Falo do misterioso assunto da “baunilha”. Me explico melhor. Quando, os ânimos estiverem exaltados, naquela pausa entre um “vai te fudê, e Carlinhos Bala é jogadô” e um “teu time é o bom, quero é vê no Arruda, pai!”, você, pacífico etílico, deve soltar rapidamente a frase-desafio:

Em tempo, “choche” é forma verbal que vem de chochar (ficar chocho, seco, fraco que nem "caldinho de salsicha"). Trata-se de uma alternativa ao tradicional “eu cegue” (que não deve mais ser usado, em respeito a portadores de necessidades especiais).
Em cerca de 98% das vezes em que usei a frase, a arenga sofreu no mínimo uma suspensão de meia-grade de cerveja. Não raro, os olhos de todos os presentes ostentam aquele ar de dúvida e de tentativa de acessar o recôndito banco de dados cerebral. Quase nunca o google dos miolos das pessoas guarda imagens e textos sobre baunilha. Só referências ao sabor.
Mas quase sempre você será interpelado com um “sim, e o que isso tem a ver com a conversa?” Não desista, insista. Vale até dizer: “dou uma grade de Bohemia se alguém aqui provar que já viu uma baunilha na vida. Pra ganhar, tem que descrever como ela é”. Aí, negão, o bicho pega. Por uma grade de Bohemia, vão surgir blefes e erros crassos como aquele de quem diz “grandes merdas, baunilha é o nome de uma essência que se bota em bolo e sorvete.”
E tu, com a alma regozijante, vai responder com um sorriso sarcástico: “É muito essência, visse, boiocó? A essência é extraída da baunilha, ela não é a baunilha”. Nesta altura, arenga nenhuma mais se registra sobre o trinômio mulher-futebol-política. Já tem neguinho caladinho, só esperando a resposta, morto de curiosidade. Todos estão com o ridículo assunto da baunilha nos cérebros já encharcados de álcool.
Não fale logo. Beba alguns bons goles de geladinha e coma bons pedaços de charque com batata e sempre sorria o sorriso dos vitoriosos. Espere as manifestações de impaciência de todos e quando um mais afoito disser que nem mesmo você sabe o que é uma baunilha, mostre erudição e explique da seguinte forma:
“Baunilha é uma espécie de orquídea que dá umas vagens grandes de onde se extrai um aromatizante bem caro, usado pra dar cheiro em chocolates, sorvetes, bolos e até em perfumes, cremes e outras coisas.”
Mas se quiser, pode ser mais pedante e afetado e dar uma explicação mais técnica como essa:
“designação comum às plantas do gênero Vanilla, da família das orquidáceas, com 100 espécies, de lianas escandentes, epífitas, por vezes afilas, cultivadas pelos frutos compridos, dos quais se extrai a essência de baunilha”.
Pronto, botequeiro (butuqueiro) da paz. Sua missão cristã foi cumprida. Pelo menos por meia-grade de cerveja, não houve arenga e você ainda deixou gente doida pra chegar em casa e digitar no google “baunilha” pra finalmente ver como a bicha é e não passar vexame nunca mais.
P.S.: Você pode substituir a baunilha pelo lúpulo, componente da cerveja, se achar que o primeiro tema é muito nada a ver. Eu também choche se tu souber e já tiver visto um lúpulo. Vai lá a explicação: “O lúpulo é uma flor da família das canabidáceas - sim, a mesma da maconha! - que entra na composição das cervejas. Apesar do parentesco, a planta não tem efeito entorpecente: serve para dar à cerva seu amargor, além de contribuir no aroma da bebida. Para quem se preocupa com o hábito de entornar uns copos, vai um alento: o lúpulo pode fazer bem à saúde. Ele possui antioxidantes naturais potentes. Como antioxidantes entendem-se substâncias que retardam a deterioração de tecidos celulares".
6 comentários:
Esse "frances" (sic)... dá pra Jornalista.. er...er escreve bem pra baunilha opss... pra caramba!!!
Hehehehehe. Idéia boa. Quando Pablo e Raymundo tiverem discutindo sobre o Sport e o Santa Cruz vou perguntar a eles se já viram uma baunilha!!!! Quero ver "legal"!!!
Eu já vi baunilha...mas o lúpulo, nunca...
tu, hem, Flávio, tão quietinho...
Gostei, vou adotar nos meus discursos de apasiguação( será que existe essa palavra?)
Estou emocionada! que boa idéia!
Meus sais! Olha o que eu encontro aqui na internet!!!!!!!!!!!!! Alisson jura que já viu uma baunilha no herbario do ex-sogro dele, mas quando pedi p ele descrever a dita cuja, ele me manda uma foto do google imagem. Devo acreditar nele?
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