30/01/2009

Se alguém souber, eu choche!


Botequeiro (ou butuqueiro, tanto faz) que é botequeiro (butuqueiro) tem bom papo (além de ser papudinho). E nessa de ter bom papo, quando o trinômio mulher-futebol-política descambar pra baixaria-quase-agressão-física, o botequeiro (butuqueiro) da paz (o que inclui obviamente os do Bar de Zé da Paz, né, Ju? Né, Ray?) deve ser assaz habilidoso para mudar repentimanente o rumo da prosa. Fugir do trinômio nefando e escatológico é urgente.

Mas o que fazer? É necessário que a arenga seja interrompida por um assunto que ninguém domine. Algo fora do comum, mas que seja levemente conhecido de todos de modo a causar curiosidade. Algo que seja conhecido sem ser inteiramente conhecido.


Vou tentar dar um exemplo. Talvez o melhor. Digo por experiência própria. Trata-se do esotérico tema da “baunilha”. Sim, não estou bêbado enquanto digito estas mal-tecladas. Falo do misterioso assunto da “baunilha”. Me explico melhor. Quando, os ânimos estiverem exaltados, naquela pausa entre um “vai te fudê, e Carlinhos Bala é jogadô” e um “teu time é o bom, quero é vê no Arruda, pai!”, você, pacífico etílico, deve soltar rapidamente a frase-desafio:

- NESSA MESA SÓ TEM GENTE SABIDA, MAS SE ALGUÉM AQUI JÁ VIU UMA BAUNILHA, EU CHOCHE!

Em tempo, “choche” é forma verbal que vem de chochar (ficar chocho, seco, fraco que nem "caldinho de salsicha"). Trata-se de uma alternativa ao tradicional “eu cegue” (que não deve mais ser usado, em respeito a portadores de necessidades especiais).


Em cerca de 98% das vezes em que usei a frase, a arenga sofreu no mínimo uma suspensão de meia-grade de cerveja. Não raro, os olhos de todos os presentes ostentam aquele ar de dúvida e de tentativa de acessar o recôndito banco de dados cerebral. Quase nunca o google dos miolos das pessoas guarda imagens e textos sobre baunilha. Só referências ao sabor.


Mas quase sempre você será interpelado com um “sim, e o que isso tem a ver com a conversa?” Não desista, insista. Vale até dizer: “dou uma grade de Bohemia se alguém aqui provar que já viu uma baunilha na vida. Pra ganhar, tem que descrever como ela é”. Aí, negão, o bicho pega. Por uma grade de Bohemia, vão surgir blefes e erros crassos como aquele de quem diz “grandes merdas, baunilha é o nome de uma essência que se bota em bolo e sorvete.”

E tu, com a alma regozijante, vai responder com um sorriso sarcástico: “É muito essência, visse, boiocó? A essência é extraída da baunilha, ela não é a baunilha”. Nesta altura, arenga nenhuma mais se registra sobre o trinômio mulher-futebol-política. Já tem neguinho caladinho, só esperando a resposta, morto de curiosidade. Todos estão com o ridículo assunto da baunilha nos cérebros já encharcados de álcool.


Não fale logo. Beba alguns bons goles de geladinha e coma bons pedaços de charque com batata e sempre sorria o sorriso dos vitoriosos. Espere as manifestações de impaciência de todos e quando um mais afoito disser que nem mesmo você sabe o que é uma baunilha, mostre erudição e explique da seguinte forma:


“Baunilha é uma espécie de orquídea que dá umas vagens grandes de onde se extrai um aromatizante bem caro, usado pra dar cheiro em chocolates, sorvetes, bolos e até em perfumes, cremes e outras coisas.”


Mas se quiser, pode ser mais pedante e afetado e dar uma explicação mais técnica como essa:

“designação comum às plantas do gênero Vanilla, da família das orquidáceas, com 100 espécies, de lianas escandentes, epífitas, por vezes afilas, cultivadas pelos frutos compridos, dos quais se extrai a essência de baunilha”.

Pronto, botequeiro (butuqueiro) da paz. Sua missão cristã foi cumprida. Pelo menos por meia-grade de cerveja, não houve arenga e você ainda deixou gente doida pra chegar em casa e digitar no google “baunilha” pra finalmente ver como a bicha é e não passar vexame nunca mais.


P.S.: Você pode substituir a baunilha pelo lúpulo, componente da cerveja, se achar que o primeiro tema é muito nada a ver. Eu também choche se tu souber e já tiver visto um lúpulo. Vai lá a explicação: “O lúpulo é uma flor da família das canabidáceas - sim, a mesma da maconha! - que entra na composição das cervejas. Apesar do parentesco, a planta não tem efeito entorpecente: serve para dar à cerva seu amargor, além de contribuir no aroma da bebida. Para quem se preocupa com o hábito de entornar uns copos, vai um alento: o lúpulo pode fazer bem à saúde. Ele possui antioxidantes naturais potentes. Como antioxidantes entendem-se substâncias que retardam a deterioração de tecidos celulares".

6 comentários:

Will almeida disse...

Esse "frances" (sic)... dá pra Jornalista.. er...er escreve bem pra baunilha opss... pra caramba!!!

Luiz Neto disse...

Hehehehehe. Idéia boa. Quando Pablo e Raymundo tiverem discutindo sobre o Sport e o Santa Cruz vou perguntar a eles se já viram uma baunilha!!!! Quero ver "legal"!!!

Alisson da Hora disse...

Eu já vi baunilha...mas o lúpulo, nunca...

tu, hem, Flávio, tão quietinho...

Cavaleiro na cola! disse...

Gostei, vou adotar nos meus discursos de apasiguação( será que existe essa palavra?)

Judapaz disse...

Estou emocionada! que boa idéia!

Karine disse...

Meus sais! Olha o que eu encontro aqui na internet!!!!!!!!!!!!! Alisson jura que já viu uma baunilha no herbario do ex-sogro dele, mas quando pedi p ele descrever a dita cuja, ele me manda uma foto do google imagem. Devo acreditar nele?