06/04/2009

O Torcedor-rapariga


Que bexiga é isso?

Torcedor: aquele que torce. No mundo esportivo, aquele que vibra com o time do coração.
Rapariga: feminino de rapaz em todos os países de língua portuguesa, com exceção do Brasil, onde o termo ganhou um significado pejorativo por conta das primeiras prostitutas, ao tempo da exploração-colonial, serem jovens esbeltas.
Torcedor-rapariga: difícil de explicar, fácil de exemplificar. Aí vai:

A cena
Asdrúbal – isso mesmo, personagem das anedotas do Pasquim – está escutando no radinho de pilha cesariamente o jogo de seu time do coração, que não ganha P.N. há muitos e muitos anos.

Pois bem, a pelada é praticamente uma baba, o seu time está vencendo o jogo pelo placar de três tentos a zero contra um time inexpressivo, praticamente um time de fazer inveja ao Íbis e a seu adorado cabeleireiro Shampoo (show, show, show!). Mas, bolinha vai, bolinha vem, o time de Asdrúbal desanda e leva um escorregão... Ops! Gol do time adversário. Asdrúbal até que fica impaciente, mas 3 x 1 é 3 x 1, e diz pra si: foi o de honra dos coitadinhos...

Mas, bolinha vai, bolinha vem... PQP, gol do time adversário: 3 x 2. Asdrúbal a esta hora já fica lembrando de quando foi a última vez que algo parecido aconteceu: Foi com um time de “São Luís de Macaxeira” na década de 1930! Mas, bolinha vai, bolinha vem... Caraaaalho!!! PQP!!! Deu c’a morrinha!!! Disgrama!! Time ruim da porra! O time inexpressivo muda da água para o vinho e seu futebol parece o de time grande. O que deu? Lógico: 3 x 3! Asdrúbal desliga o rádio encolerizado, babando que nem um cachorro engatado na cadela da rua, diz meio mundo de palavrões, tira a camisa do time, e se senta bufando... Não dá nem dois minutos, corre para ligar o rádio e... só dá o time inexpressivo na cabeça, o locutor grita: “Essa acordou a coruja à cadeirada” ou “Papai gritou da arquibancada: é meu menino, porra!”

Asdrúbal dá um peteleco no botão do rádio que volta a ficar mudo, senta no sofá bufando, tendo um tremelique nas pernas. A essa hora a mulher acorda com aquele “vira-e-mexe” e faz a pergunta mais imbecil para aquele instante: “O time tá perdendo?” Asdrúbal responde à seu Lunga: “Tá ganhando, não tá vendo minha alegria não?” A mulher sai chorando, Asdrúbal fica mais puto ainda e... Liga o rádio de novo!!! E... Bolinha vai, bolinha vem: o xodó do time, o talismã da torcida acerta aquele chute, naquele lance, daquele jeito, naquela hora, naquele canto... 4x3!

Asdrúbal já com a bandeira do time aberta para o mundo, grita eufórico: Caraaaalho!!! PQP!!! Deu c’a morrinha!!! Disgrama!! É o melhor time do mundo, porra!!! Corre vai até o quarto, abraçar a mulher com milhões de beijos e desculpas. Depois corre até a geladeira, vê que não tem cerveja, pede para o vizinho de janela, que é o vendedor, fazer meia grade no fiado. Volta, liga o rádio e põe o CD do time. Tudo isto às 23:52h...

Diagnóstico
Se você já sentiu estes sintomas, você sofre de uma doença chamada o torcedor-rapariga.

Exemplos
Torcedor que é torcedor torce até o fim, o torcedor-rapariga não. Ele sofre, ele chora, ele vê todas as outras tristezas de sua vida como dias felizes, ele sabe que o que o destrói é seu time, mas não consegue deixar de amá-lo, de acariciar o emblema do clube, de manifestar as puras emoções.

Torcedor que é torcedor faz prece, promete a Nossa Senhora da Conceição uma subida no morro de joelhos, mas o torcedor-rapariga não. Ele acha isso pouco. Ele aposta uma grade de cerveja Bohemia, o carro, a casa, a mulher! Perde, e depois põe a culpa na santa.

Torcedor que é torcedor reconhece a fragilidade do time, torna-se sócio do clube para não ter remorsos, o torcedor-rapariga não. Ele se doa, entrega-se por inteiro, vai trabalhar no bar do clube sem ganhar nada, deixa tudo pra trás: troca de emprego, troca de bar, troca de mulher, de sogra, de casa, de quenga, de família, de sexo, mas não troca o time, e este só levando no fiofó...

Torcedor que é torcedor veste a camisa do time todo dia, sabe todos os títulos e as escalações, o torcedor-rapariga não. Para ele isso não passa de amadorismo. Ele leva o filho do urso, que é muito bom de bola, para jogar no seu time. O pivete faz um gol, ele grita contente: "É filho da minha mulher com o padeiro!" E decide ali pagar uma pensão pro urso, dizendo: "Você só me dá alegrias!"

Torcedor que é torcedor só torce para um time, o torcedor-rapariga não. Ele cria um time na sua rua com o mesmo escudo e com os filhos dos outros que comem a sua mulher, os quais ele nomeia com a escalação que marcou sua infância.

Torcedor que é torcedor vai todo jogo ao estádio ficar com a bunda quadrada num concreto, levando sol na cara o tempo todo, gritando e pagando R$3,00 numa latinha de Belco, o torcedor-rapariga não. O torcedor-rapariga arruma um caminhão para levar a mercadoria de graça pro clube. No jogo, compra todo cachorro-quente, todo salsichão (que ele chama de salchichão), todo queijo grelhado com quatro quilos de sal (e no outro dia vem aquele chicotinho, mas ele nunca deixa de comprar).

Torcedor que é torcedor deixa a mulher em casa de cama para ir ao jogo, o torcedor-rapariga não. Ele gasta o dinheiro da feira de casa e do remédio da esposa no barzinho da esquina, onde está sendo transmitido o jogo, que também está passando em sua casa.

Torcedor que é torcedor vai à festa de 15 anos da filha com o rádio na cintura e fones o tempo todo sem dar atenção a ninguém, o torcedor-rapariga não. Ele tem certeza de que o estádio de futebol é o shopping, é a praia, é o Mcdonald’s, é a igreja! E reza. Reza para o blogueiro parar de queimar seu filme na internet.

2 comentários:

pablo disse...

"é meu menino, porra!!!"
hahahauahauahahahahahaha

Medievas disse...

"Perde, e depois põe a culpa na santa."

No meu caso, a culpa é do Santa mesmo! :p