09/12/2008

Sem fraternização, por favor

Sujeito corpulento, de bigode farto, entra na sala do meu departamento. Não dava pra sacar a expressão dele por causa dos pêlos amarelados que cobriam a boca. Eis que ele corta pra cá, pra lá, contorna minha divisória, veja só!, e se apóia - feladaputa! - na porra da minha mesa, amassando meu encarte do Flaming Lips de papel laminado. Pra fuder de vez, o tranqueira ainda faz menção pra eu tirar meus fones.

- Paulo, certo? Aqui estáá... vamos lá... pronto. Seu convite para nossa confraternização de fim de ano.
- Hein? Quem é você?

Sério, nunca vi. Mas ele não se agradou muito da pergunta, pelo visto. Cobriu metade dos olhos com as pálpebras enrugadas e falou sem muita entonação positiva:

- Sou o chefe da repartição.
- Aaah.. haha. Tá certo. O senhor tirou a barba, doutor Tavares?
- Desde os 25 anos. E o doutor é Silveira.
- Claro.
- Enfim, esteja lá.

Um a zero pro Silveira. Tomei no cu. Tenho culpa se ele nunca aparece ali?
No dia da festa, eu estava lá, de bermudão e camiseta, curtindo as skólicas, começando a apontar os dedinhos pra Jesus, ouvindo a porra do disco do Benito de Paula que o chefe trouxe - dizem - pa pa pa pa-para animar a festa. Me cheguei no Catita, do almoxarifado, porque eu vi um despacho interessante arrastando as sandálias perto da piscina.

- Catita, e aquele lanchinho ali, quem é?
- Rapaz, é estagiária de RH, Amanda. Mas v...
- Só preciso disso mesmo. Fica aí.
Eu me vi num corredor pro céu, daqueles cheios de luz branca. Já tava vendo a menina tocando harpa com aqueles fios de cabelo lôro. Peguei uma dose do Daniel Andarilho que se eqüilibrava com dificuldade na bandeja de um garçom e me cheguei na moçoila.

- A gatinha bebe leite?
- Só se for integral.
- Então chamegue comigo, venha.

Não danço. Não gosto e nem sei. Mas o álcool é divino. Tanto que até Jesus bebia. A bichinha dançava coladinho, testa com testa. Peguei a danada pela cintura e arrastei pro meu lado. Aí aqueles moranguinhos ficaram colados no meu peito. Daí pra encoxar a menina foi um pulo. O negócio tava esquentando, e o negócio esquentando, e a gente parecendo duas cobras fornicando. E nessa historinha de ficar entornando e dançando, acabei nem percebendo o burburinho que as pessoas ruminavam ao nosso redor. Quando vi, já tinham formado aquele círculo de briga de galo, cheio de olhares atônitos.
Aí eu vi o Silveira - graaande chefe da repartição - olhando pra mim, admirado. Acho que ganhei o respeito dele, até porque ele parecia que tava babando pela Amanda. Tanto que, num intervalozinho pra moça ir ao banheiro, ele se chegou pra perguntar:
- Rapaz, o que é isso? - falou baixo e rouco no meu ouvido.
- O maior pitéuzinho que eu já vi nessa empresa, doutor Silveira. Eita cabrita pra dançar pra porra!
- Isso é um absurdo! - ele se tremeu. Parecia excitado, o velho. Hahaha.
- É que o senhor ainda não agarrou as coxas dela.
- Olhe, meu rapaz! - gritou. Você está bêbado...
- E doido pra fofar, meu querido! Hahaha.
- ... e se atracando com minha filha!
- Eita, porra...

Lembram do círculo? Dissipou-se. Procurei o Catita com os olhos. Ele deu de ombros, fez cara de "tentei te avisar" e se saiu. Pra fuder de vez, já que aquilo ainda era pouco, inventei de fazer piadinha.
- Doutor Silveira, tenha calma. Deixe eu lhe pagar um passaportezinho.
- Quem pagou toda essa merda aqui... FUI EU!
- Tenho alguma chance?
- Tem, sim, meu amigo. Tem, sim. Grandes chances de ir pra puta que o pariu! Semana que vem, passe na minha sala, se souber onde é.
- Pois é... eu não sei mesmo.
- Fora daqui!

E foi aí que recolhi meus picuai pra virar escrevedor de blog de segunda.

7 comentários:

Judapaz disse...

eu achei que ia ser a história do gay que se assume na confraternização, mas foi a do cara que pegou a filha do chefe...

pablo disse...

paulo tem jeito de veado mermo...
aêêêêêêêêêêêêê!!!

Luiziana disse...

Que pegou filha do chefe que nada!É a história do cara que foi pego pelo chefe!
Mas sempre achei que Natal era assim mesmo, peru prum lado, rolha pro outro....

Paulo Oliveira disse...

Judapaz, seje sincera. Pensasse isso pela foto, foi não?

Judapaz disse...

sacanagem... nem conheço o companheiro bebum blogeiro. Não foi pela foto. Foi o primeiro clichê de festa de confraternização que me veio na cabeça.

ombudsman disse...

Fagundes é um nome ótimo para chefe de repartição. Sempre quis conhecer um Fagundes. É um nome quase tão raro quanto Afonso.

ombudsman disse...

E dane-se a coerência com o tema.