27/12/2008

Rabo de Cana em "O Pau do Índio"






22/12/2008

Deliciano [02]

De paladar apurado eu entendo, principalmente quando se fala da simplicidade culinarística misturada ao prazer de ousar nos pratos de fim de semana.

Nem sempre precisamos de ervas orientais ou vinhos caros pra saborear delícias de bom gosto. Muitos ingredientes são desconhecidos da maioria do público (quando falo público, estou abrangendo todas as classes inclusive os grandes chefes brasileiros e estrangeiros).

O significado da renovação. Esse é o novo valor, que venho apresentar pra todos com essas mal digitadas linhas. A morte da vida material pro renascimento espiritual. Tudo isso e um pouco mais são representados por um único ingrediente conhecido por todos e respeitado ou idolatrado por poucos. Sua importância pra nossas vidas é tão grande que Jesus teve seu nascimento anunciado por um desses animais de origem simples e de incomensurável grandeza. Simplicidade... palavra que define prioritariamente o mistério da vida. Em outras palavras, tudo que Deus veio nos ensinar com a breve visita de seu rebento entre nós.

Na tentativa de adicionar à minha mais nova receita a essência deste fruto cercado de significados nobres e históricos, é que vou compartilhar com meus leitores este desbunde de sabor inigualável que mais se assemelha a um deslumbre paradisíaco ou talvez a uma obra artística pensada exclusivamente para ser servida na ceia natalina.

De antemão, segurem a ansiedade pra receber meus mais humildes agradecimentos pelo carinho recebido por vocês leitores a quem devo toda minha vitalidade receituarística.

Bom... já chega de enrolação. Peguem seus caderninhos do chef Felic Deliciano e mãos à obra para prepararmos juntos nossa bolacha com ovo.

Ingredientes:
- 200g de bolachas amanteigadas, preferencialmente a marca do nosso patrocinador;
- Duas colheres de sopa rasa de manteiga do tempo da vovó;
- Dois ovos recém saídos do orifício originário penístico. É importante não lavá-los pra não perderem as vitaminas naturais presentes no resquício do patê de tom amarronzado;
- Sal a gosto.

Modo de preparo:
Jogue na assadeira quente as colheres de manteiga e o sal. É vital para todos os preparos o respeito ao tempo de apuração de cada ingrediente misturado a panela. Quebre os ovos e mexa incansavelmente com uma colher de pau. Pegue as bolachas e espalhe-as sobre o prato. O ovo estará no ponto quando não der mais pra distinguir a clara da gema e não grudar mais no fundo da assadeira. Jogue o ovo mexido em pequenas doses sobre as bolachas e sirva quente acompanhado da bebida que irei ensinar-lhes em nosso próximo encontro.

Beijo a todos e um Feliz Natal.

16/12/2008

Deliciano [01]


Depois da dieta do Mediterrâneo e do finíssimo patê de fígado de colibri embriagado dos alpes, o mais novo chefe afro-brasileiro - esse que vos fala – descobre como num encantamento dos mais antigos deuses culinarísticos, a mistura que irá revolucionar o paladar dos mais exigentes clientes.

Prato principal, leve, com textura solta, meio emboloada; não é assim como Chiquinho Scarpa, mas ele nunca repete roupa. Pode receber os mais diversos acompanhamentos: frutas, doces, biscoitos ou o que você imaginar.

Uma mistura ousada que, para surpresa de todos, vem agradando dos cuscuzeiros e charqueiros até aos chicharreiros framboelísticos mais fresquentos.

Simples de preparar, pensado primordialmente para ser servido como lanche em momentos especiais ou coffee breaks com os amigos.

Pra quem pensou que estou falando do fondue, se enganou resfriadamente. Apesar de ser servido quente ou frio, seu preparo não é tão refinado; porém é bem mais valorizado.
Alguns podem dizer que já o comeram na infância, mas não com sua nova linguagem a ser apresentada pelo chef Felic.

Segundo esse chef, não há nada igual ou regime que resista. Essa nova tendência, que pela primeira vez na história culinarística, rompe todos os paradigmas agridoces.

Não vem do oriente para o ocidente. Está justamente acontecendo o contrário. O brasileiríssimo está conquistando a Europa. Até o requintado chef Attala na Mao, veio conferir de perto os côncavos e recôncavos dessa novidade pernambucana.

E, pra quem acha que já viu de tudo, pasmem quando descobrirem que este chef está falando do famosíssimo mingau de farinha láctea.

Puta que pariu, que delícia da porra!


RECEITA
Ingredientes: 3 colheres (sopa) de leite, 6 colheres (sopa) farinha láctea
e água.
Modo de preparo: Pegue uma cumbuca, coloque as 3 colheres de leite e 6 de farinha láctea. Vá acrescentando água e mexendo até chegar no ponto desejado [mingau ou papa]. Se durante o processo derramar na mesa, lamba evitando formigas fubanas.
Depois é só dar um toque especial acrescentando ingredientes a gosto, como: maçã, biscoito, banana, canela, etc.
ATENÇÃO! Esse prato atrai crianças esfomeadas. Se você as possui, pode ser que fique só olhando.

09/12/2008

Sem fraternização, por favor

Sujeito corpulento, de bigode farto, entra na sala do meu departamento. Não dava pra sacar a expressão dele por causa dos pêlos amarelados que cobriam a boca. Eis que ele corta pra cá, pra lá, contorna minha divisória, veja só!, e se apóia - feladaputa! - na porra da minha mesa, amassando meu encarte do Flaming Lips de papel laminado. Pra fuder de vez, o tranqueira ainda faz menção pra eu tirar meus fones.

- Paulo, certo? Aqui estáá... vamos lá... pronto. Seu convite para nossa confraternização de fim de ano.
- Hein? Quem é você?

Sério, nunca vi. Mas ele não se agradou muito da pergunta, pelo visto. Cobriu metade dos olhos com as pálpebras enrugadas e falou sem muita entonação positiva:

- Sou o chefe da repartição.
- Aaah.. haha. Tá certo. O senhor tirou a barba, doutor Tavares?
- Desde os 25 anos. E o doutor é Silveira.
- Claro.
- Enfim, esteja lá.

Um a zero pro Silveira. Tomei no cu. Tenho culpa se ele nunca aparece ali?
No dia da festa, eu estava lá, de bermudão e camiseta, curtindo as skólicas, começando a apontar os dedinhos pra Jesus, ouvindo a porra do disco do Benito de Paula que o chefe trouxe - dizem - pa pa pa pa-para animar a festa. Me cheguei no Catita, do almoxarifado, porque eu vi um despacho interessante arrastando as sandálias perto da piscina.

- Catita, e aquele lanchinho ali, quem é?
- Rapaz, é estagiária de RH, Amanda. Mas v...
- Só preciso disso mesmo. Fica aí.
Eu me vi num corredor pro céu, daqueles cheios de luz branca. Já tava vendo a menina tocando harpa com aqueles fios de cabelo lôro. Peguei uma dose do Daniel Andarilho que se eqüilibrava com dificuldade na bandeja de um garçom e me cheguei na moçoila.

- A gatinha bebe leite?
- Só se for integral.
- Então chamegue comigo, venha.

Não danço. Não gosto e nem sei. Mas o álcool é divino. Tanto que até Jesus bebia. A bichinha dançava coladinho, testa com testa. Peguei a danada pela cintura e arrastei pro meu lado. Aí aqueles moranguinhos ficaram colados no meu peito. Daí pra encoxar a menina foi um pulo. O negócio tava esquentando, e o negócio esquentando, e a gente parecendo duas cobras fornicando. E nessa historinha de ficar entornando e dançando, acabei nem percebendo o burburinho que as pessoas ruminavam ao nosso redor. Quando vi, já tinham formado aquele círculo de briga de galo, cheio de olhares atônitos.
Aí eu vi o Silveira - graaande chefe da repartição - olhando pra mim, admirado. Acho que ganhei o respeito dele, até porque ele parecia que tava babando pela Amanda. Tanto que, num intervalozinho pra moça ir ao banheiro, ele se chegou pra perguntar:
- Rapaz, o que é isso? - falou baixo e rouco no meu ouvido.
- O maior pitéuzinho que eu já vi nessa empresa, doutor Silveira. Eita cabrita pra dançar pra porra!
- Isso é um absurdo! - ele se tremeu. Parecia excitado, o velho. Hahaha.
- É que o senhor ainda não agarrou as coxas dela.
- Olhe, meu rapaz! - gritou. Você está bêbado...
- E doido pra fofar, meu querido! Hahaha.
- ... e se atracando com minha filha!
- Eita, porra...

Lembram do círculo? Dissipou-se. Procurei o Catita com os olhos. Ele deu de ombros, fez cara de "tentei te avisar" e se saiu. Pra fuder de vez, já que aquilo ainda era pouco, inventei de fazer piadinha.
- Doutor Silveira, tenha calma. Deixe eu lhe pagar um passaportezinho.
- Quem pagou toda essa merda aqui... FUI EU!
- Tenho alguma chance?
- Tem, sim, meu amigo. Tem, sim. Grandes chances de ir pra puta que o pariu! Semana que vem, passe na minha sala, se souber onde é.
- Pois é... eu não sei mesmo.
- Fora daqui!

E foi aí que recolhi meus picuai pra virar escrevedor de blog de segunda.